sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A musa



O poeta de costas, sentado à sua mesa, não se dá conta do que passa. Se fecha em seus papéis e canetas, alheio a tudo e a todos. Rejeita a musa, abandona as cores do mundo, e se prende a seus escritos. Retoma seu texto, tentativas desajeitadas e sem alma - lhe falta algo - a musa? Mas está convencido de que não precisa mais dela, e de que não precisa escrever. Atira a um canto as canetas, entorna tinta nos papéis, fecha o livro.

Mas basta que ela, antes alheia a tudo, lhe dirija um olhar, uma palavra, que lhe mostre que ela ainda existe, para sua certeza de independência se esvaia.

O poeta não supera a musa. Ele a recolhe, e guarda com cuidado junto às outras que o abandonaram. Elas moldaram quem ele se tornou.

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