A cama vazia fomenta reflexões, pensamentos, questionamentos. E ressalta a solidão de ser só.
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
sábado, 6 de dezembro de 2008
Tesouros
No início, ele se apaixonava por pessoas que já lhe eram próximas, que já eram seus tesouros. Com medo de estragar a amizade, tão preciosa, permanecia calado. Quando resolvia mudar, era tarde demais.
Um dia ele tentou não ficar calado, e agiu cedo demais. Pelo tempo de uma vida ele viveu a comodidade do "contente", abrindo mão de tentar ser muito feliz.
Hoje ele não se prende mais a ninguém. Não se permite. O medo do "contente" o persegue. Vive cercado do medo de se ver novamente conformado. Quando tentou descer as escadas para a rua, o gelo nos degraus quase o derrubou, mas ele retornou à soleira da porta e ali permanece, observando, esperando encontrar aquela que pode ser sua Amada, a Uma, a Certa.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Anônimo
Caminho pelas ruas, mais um pedestre sem rosto em meio à multidão. Apenas mais um nas estatísticas, mais um na fila do caixa, no ponto de ônibus, no hospital. Um figurante, cumprindo seu papel de criar volume, de olhar admirado para o protagonista quando a câmera me tem em foco, ou de ignorar o que se passa ao meu redor quando estou ao fundo.
De volta ao lar, sou um olhar inexpressivo por trás da vidraça molhada de chuva, observando o tempo que passa.
Anônimo, e só.
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Convite
Vem comigo, deixa-me te mostrar um mundo que você não achava possível. Complicado, perfeito, mas ao mesmo tempo, livre, sem regras. Me dê a mão, deixe o medo de lado. O pior que pode acontecer é um tropeço no caminho, o retorno ao início, mas pelo menos não haverá a sombra do "e se...?"
Ou vamos esperar até que seja tarde demais?
Livros
Me cerco de livros, mundos de fantasia, ilusão. Melhores, piores? Diferentes.
Me cansei da mesmice que me cerca, de ver as mesmas histórias se repetindo, de usar o mesmo perfume, as mesmas roupas, das paredes beges e lençóis brancos.
Ao terminar um capítulo, paro, pensativo, os dedos acariciando a borda da folha, e olho para a prateleira. Livros de ciência, de ficção, de história e matemática. Mas o que acontece fora deles? O que se passa do lado de fora da porta? Há algo além da janela? O que acontece ao redor de Bastian, enquanto ele acompanha Atreyu? Não sei. Meus olhos voltam para meus dedos, e, acariciando o papel amarelado, viro a página.
A musa
O poeta de costas, sentado à sua mesa, não se dá conta do que passa. Se fecha em seus papéis e canetas, alheio a tudo e a todos. Rejeita a musa, abandona as cores do mundo, e se prende a seus escritos. Retoma seu texto, tentativas desajeitadas e sem alma - lhe falta algo - a musa? Mas está convencido de que não precisa mais dela, e de que não precisa escrever. Atira a um canto as canetas, entorna tinta nos papéis, fecha o livro.
Mas basta que ela, antes alheia a tudo, lhe dirija um olhar, uma palavra, que lhe mostre que ela ainda existe, para sua certeza de independência se esvaia.
O poeta não supera a musa. Ele a recolhe, e guarda com cuidado junto às outras que o abandonaram. Elas moldaram quem ele se tornou.
Só.
Estar só. Vazio da presença de outros.
Se sentir só. Abstênio de companhia.
Ser só. No isolamento de si mesmo, saber-se só. simples assim.
Em meio à multidão é onde me sinto mais só. É onde sou confrontado com o fato de que existem pessoas ao meu redor, que vivem suas vidas normalmente, e como é evidente a minha inabilidade em me encaixar, em "fitting in". Ainda assim, eu tento. Um dia eu consigo.
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Mares secos
O barco partiu há muito, e o tempo, incessante, passou. A velha âncora, separada de sua embarcação, já não tem mais um propósito, mas permanece, impávida, cumprindo seu papel. Não lhe importa que não haja mais brisa, peixes ou mar.
Não lhe estranha a ausência da tensão da nau puxando, querendo movê-la. Nem considera a possibilidade de ter sido deixada, um monumento ao passado. Ela segue como se barco nunca houvesse visto, como se no mar nunca houvesse mergulhado. Aguarda o olho do viajante, a visão inesperada no mar da planície.
Sua nova função é simples: Assegurar-se de relembrar o viajante de que o mar ainda existe, apenas se mudou, fugiu, esguio. Há outras águas, há outros mares, há mais no mundo que essas planuras de sal. Basta buscar, ou, quem sabe, aguardar que a próxima maré alta traga o retorno do mar que secou.
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Largada
Os músculos retesados, a mente afiada, os ouvidos atentos. Cada nervo carregado, pronto para a largada. Nada do passado importa, só o agora, e o que vem pela frente. A estrada que me trouxe até aqui é meu caminho, isso não se muda, e nem quero. Devo ao meu passado o que me tornei. Bom ou ruim, este sou eu.
A estrada à frente é difusa, incerta, acho que preciso de novos óculos. Talvez lentes de contato, mudar, mudar mais, ajustar, até encontrar meu novo domínio.
Impaciente, ansioso, incauto até, não espero o tiro, e parto, vento no rosto, peito aberto, em direção ao futuro que me espera.
quarta-feira, 30 de abril de 2008
Sonhar
Certa vez sonhei que voava. Por acaso, ganhei consciência do estado de sonho e consegui controlar o que acontecia. Nunca aconteceu de novo.
Hoje eu sonhei que voava, e o despertador me trouxe de volta à realidade, e fica um resquício de frustração, por saber ser apenas um sonho.
Alguns dizem que deveríamos poder escolher o que sonhar.
Para mim, escolher o que não sonhar já seria um grande progresso. Evitaria a frustração do despertar.
quarta-feira, 23 de abril de 2008
O Só e a Rosa
É, nem sempre dá certo.
Não se colhe uma rosa só pelo desejo de acolhê-la. Não se cativa quem não se permite ser cativado.
E assim, é com certa tristeza que sigo em frente, cabisbaixo, novamente só. Desejo que a rosa fique bem, que encontre alguém que lhe regue e acolha como eu o faria. E que saiba que se precisar de mim, estarei aqui, e que se mudar de idéia, que não hesite em me chamar; talvez não seja tarde demais.
terça-feira, 15 de abril de 2008
Fechado para balanço
Às vezes chegam momentos em que a gente tem que se fechar um pouquinho, pensar nas coisas que têm acontecido, pra entender melhor, para perceber como nos sentimos depois de removidos os impulsos de momento, as dúvidas sem resposta.
E às vezes, nem um período desses resolve. A confusão permanece, a insegurança, as incertezas. A vontade de acertar, o desejo de entender, de saber por que a rosa é diferente das outras rosas, de olhar mais de perto e ver que mesmo essa rosa tem lá as suas duas ou três lagartinhas.
Me criticam porque sou frio, me criticam porque sou apaixonado.. sou assim, contraditório. Desculpe, não posso evitar. Não sei como me portar, não encontrei ainda o manual de instruções dessa coisa chamada "vida". Às vezes a gente fica sem saber qual botão apertar, qual alavanca puxar, e na ânsia de acertar, acabamos fazendo de mais ou de menos. Não existe ponto certo, não existe ideal. O ideal é ilusório, o que podemos fazer é tentar o melhor possível dentro do que conhecemos, dentro do que nos aparece.
E depois desse "fechado para balanço", é questão de voltar à vida, levando em frente, buscando aquela gota de orvalho.
sexta-feira, 11 de abril de 2008
Amigo meu
Tenho um amigo que inventou de fazer blog uma vez. Era pra ser uma coisa introspectiva, pensamentos particulares.. então não colocou nos engines de busca, e não contou pra ninguém, nem pra esposa.
Eventualmente, uns outros amigos descobriram, e o blog desse amigo meu durou um ano e pouquinho.
Meu blog é diferente. É introspectivo, mas é uma coisa peito aberto, quem quiser ler, que leia, este sou eu, alma desnudada, lavada, exposta. Não é segredo, mas é íntimo. Não escrevo com censura, não me limito pensando na platéia. Sou eu, assim, aqui. Só.
Desejo
O que eu desejo? Essa é uma pergunta difícil de ser respondida. Desejamos muitas coisas, muitos graus da mesma coisa. Mas o que seria o ideal, pra não se atropelar como a criança que come 10 barras de chocolate de uma vez?
Um passeio no parque, um entardecer no café, um show, um cinema, o largo da ordem na manhã de Domingo, o Botânico no pôr do sol de um dia qualquer.
O que desejo é um namoro de criança, o namoro de conhecer, de se permitir a aproximação gradual. O namoro onde até a mão dada é estranha, onde o beijo roubado é proibido, onde cada novo encontro é precedido de imensa expectativa. Quero a chance de me aproximar mais, devagarinho, de poder conhecer e ser conhecido, de cobrir essa lacuna enorme de tanto tempo passado sem que um soubesse da existência do outro. Sem promessas, sem neuras. Só a chance de nos conhecermos melhor. Simples assim.
Medo
O dia amanhece, chega o despertar para a vida que segue. Olho pro ontem, pro amanhã, não sei onde estou. Como seria de se esperar, imagino que talvez o "não" seja mais por medo que por ausência de vontade ou interesse.
Já deixei que o medo me dominasse muitas vezes. O medo de perder o que eu tinha, amizade que era muito preciosa para mim. O medo de me desiludir, de fazer com que ela caísse do pedestal onde eu a havia colocado. Medo de me machucar, o terror absoluto que sempre assombra a idéia de machucar quem eu gosto. Já me deixei dominar pelo medo de estragar o futuro daquela com quem eu queria passar o futuro, e saí assim, sem nenhum dos dois entenderem o porquê. Deixei que o medo do oceano do incerto me impedisse de sair do barco que navegava para onde eu não queria ir.
Com todo esse receio, toda essa cautela, acabei me trancando em uma redoma, me isolando do mundo e das pessoas que poderiam estar comigo. E fui só.
Por isso resolvi não mais me entregar ao medo. Prometi a mim mesmo que não ficaria acovardado em um canto, que me arriscaria, que aceitaria a chance de perder quando eu tivesse muito a ganhar. Pode não dar certo, pode ser tudo uma ilusão, mas não terá sido em vão. Valeu a viagem, a tentativa, valeu o fantasma que foi afastado um pouquinho mais. Eu sei dos riscos, eu sei que não é simples como nos contos de fada, mas aceito isso como parte indivisível do todo.
Tenho medo sim, também sangro quando me machuco.
Apenas resolvi enfrentá-lo.
Solidão
O mundo é um antigo filme preto-e-branco. Olho à minha volta, não encontro os óculos escuros para me proteger da luz ofuscante que me envolve. Cego, sigo tropeçando no cenário abandonado de uma peça há muito esquecida. O pianista do cinema, bêbado, cai sobre o piano em lá menor, enquanto na tela muda, eu me sento e espero, sem desejo de voltar para a estrada, onde um cão sem dono aguarda para lamber-me a mão.
quinta-feira, 10 de abril de 2008
A nova espera
Às vezes enxergamos as coisas como gostaríamos que elas fossem, nossos desejos nos iludindo, distorcendo nossa percepção. Cabe ao observador filtrar isso, ou reconhecer a possibilidade de distorção e levá-la em conta antes de se tomar aquilo como verdade.
Assim, agi como achei que deveria, mas a miragem era realmente apenas parcialmente real. Não me arrependo, faria de novo, acho que a chance de dar certo fez com que valesse a pena o risco.
Agora estou aqui, à porta, curioso, desejoso de ver mais, de entrar nesse admirável mundo novo. Talvez o portão se abra, talvez não... quem sabe? Não eu...
A gota de orvalho caiu da pétala de flor. Mas vejo uma pluma no chão, talvez soprando juntos, consigamos fazê-la voar bem leve em sua vida breve, enquanto houver vento sem parar. Enquanto isso, vou esperando.. observo, aguardo, paciente, a chance de espiar o mundo por trás do portão.
Será?
Será que ela está pensando em mim?
O que se passa na mente dela? Que dúvidas? Alguma certeza? Vontades? Quais?
Não tenho pressa, mas tenho minhas dúvidas também, perguntas, questionamentos... Me perco em meus pensamentos, e quando vejo, o tempo passou, e estou um tiquinho mais próximo de descobrir a resposta pra mais uma pergunta, abrir mais um pouquinho a cortina.
Penso? Questiono? Imagino? Claro!
É natural a gente ficar divagando sobre as coisas boas que acontecem com a gente.
terça-feira, 8 de abril de 2008
Miopia
"Você é muito fechado", me dizem alguns. É porque ainda não chegaram perto o bastante. É difícil eu deixar que alguém entre no meu mundo, mas quando acontece, é como se sempre tivesse estado lá. De longe sou um sério, fechado, sisudo até. De perto, sou outro. É uma miopia do observado, não do observador.
Isso às vezes me atrapalha um pouco, afasta as pessoas. Sei que minha primeira impressão geralmente não é das melhores. Mas me dê uma chance, e te mostro que no peito dos mal-humorados também bate um coração...