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quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Retrospectiva



2008 foi um ano de reconstrução. De juntar os cacos, fazer curativos, riscar o passado. Foi um ano de amar muito, e não importa que não tenha dado em nada. Valeu o amar, o saber que ainda é possível sentir isso, que as cicatrizes não petrificaram o coração. Foi um ano de escrever, de maneira inconstante, mas honesta, aberta. De ir em frente, arriscar, de largar o guarda-chuva em casa e sentir o gosto da água que cai do céu, mesmo que seja fria e imprevisível. De escutar meu nome nos ecos soprados pelo vento, tentar responder e não encontrar nada lá. De aceitar que, embora a companhia faça toda a diferença, isso não é algo que se arranca de alguém.

Foi o ano de casa nova, de corpo e alma. De escrever os erros na parede da sala, para não me esquecer deles, e guardar os acertos em envelopes na cabeceira da cama, para saborear mais uma vez antes de dormir. Foi neste ano que eu quis congelar o tempo, rodar horas para trás, escutar outros sons, ir a outros lugares, ver outras pessoas, provar outros sabores, me envolver noutras cores.

Reconstruí meu castelo, mas com portas amplas, sem chave na porta, para meus amigos entrarem. Cuidei do meu tempo, do meu futuro e do meu passado, mas ignorei um pouco o presente. Me vi de repente em turbilhões, querendo despertar para me descobrir em meio a um sonho tumultuado.

Está quase acabando. Daqui a pouco vejo o que está realmente acontecendo à minha volta. O pior já foi, agora é só esperar a poeira baixar.

domingo, 7 de dezembro de 2008

A que chegou tarde demais



Um amor tão terno surgiu, fomentado no adormecer da amada em seu colo, que mesmo depois de anos e milhas de distância, ele ainda se lembra do toque dos cabelos castanhos entre seus dedos. No início ela o afastou, depois seguiram vidas diferentes, e quando ela pensou que lhes seria possível tentar retomar, era tarde demais. A lembrança permanece, mas com a doçura de anos passados, de um tempo que não volta mais.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Canteiro



Recolhi os poemas e cartas, minhas canetas e papéis, e os enterrei. Não quero mais. Quero a lembrança doce das palavras, melhoradas pela imprecisão da memória falha. Fico com a ilusão do sonho, do que poderia ter sido, tão melhor do que o que teria realmente acontecido!
Agora no jardim, entre os espinhos das roseiras, há um canteiro de amores-perfeitos, e não posso evitar um sorriso no canto da boca, com a lembrança do que os alimenta.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Passado



E de repente, sem nunca ter sido presente, ele se tornou passado.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A musa



O poeta de costas, sentado à sua mesa, não se dá conta do que passa. Se fecha em seus papéis e canetas, alheio a tudo e a todos. Rejeita a musa, abandona as cores do mundo, e se prende a seus escritos. Retoma seu texto, tentativas desajeitadas e sem alma - lhe falta algo - a musa? Mas está convencido de que não precisa mais dela, e de que não precisa escrever. Atira a um canto as canetas, entorna tinta nos papéis, fecha o livro.

Mas basta que ela, antes alheia a tudo, lhe dirija um olhar, uma palavra, que lhe mostre que ela ainda existe, para sua certeza de independência se esvaia.

O poeta não supera a musa. Ele a recolhe, e guarda com cuidado junto às outras que o abandonaram. Elas moldaram quem ele se tornou.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Mares secos



O barco partiu há muito, e o tempo, incessante, passou. A velha âncora, separada de sua embarcação, já não tem mais um propósito, mas permanece, impávida, cumprindo seu papel. Não lhe importa que não haja mais brisa, peixes ou mar.

Não lhe estranha a ausência da tensão da nau puxando, querendo movê-la. Nem considera a possibilidade de ter sido deixada, um monumento ao passado. Ela segue como se barco nunca houvesse visto, como se no mar nunca houvesse mergulhado. Aguarda o olho do viajante, a visão inesperada no mar da planície.

Sua nova função é simples: Assegurar-se de relembrar o viajante de que o mar ainda existe, apenas se mudou, fugiu, esguio. Há outras águas, há outros mares, há mais no mundo que essas planuras de sal. Basta buscar, ou, quem sabe, aguardar que a próxima maré alta traga o retorno do mar que secou.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

O Só e a Rosa


É, nem sempre dá certo.

Não se colhe uma rosa só pelo desejo de acolhê-la. Não se cativa quem não se permite ser cativado.

E assim, é com certa tristeza que sigo em frente, cabisbaixo, novamente só. Desejo que a rosa fique bem, que encontre alguém que lhe regue e acolha como eu o faria. E que saiba que se precisar de mim, estarei aqui, e que se mudar de idéia, que não hesite em me chamar; talvez não seja tarde demais.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Um ano



E faz um ano que mudei de vida. Um ano desde que acabou meu casamento. Sinto saudade das coisas boas, mágoa pelas ruins, tristeza pela perda, alívio pelo recomeço. Foram 7 anos, não dá pra fingir que não existiu, que não importou. E é importante se lembrar dessas coisas. Uma amiga certa vez me disse que ela anotava em um diário tudo o de ruim que lhe fizeram para que ela não esquecesse nunca, para não se permitir fazer aquilo a outros. Eu a entendo.

Não foi fácil, este ano. Muitas, muitas mudanças, muitas alterações de estado, de disposição... É estranho olhar pra trás e ver que faz um ano. Curioso como o tempo não é absoluto. Um ano é muito e pouco ao mesmo tempo. O passado de um ano é ao mesmo tempo remoto e recente.

Nesse ano aprendi muitas coisas, cresci, lutei, sobrevivi... e descobri que quem mais te machuca é quem você confia pra lhe guardar as costas. E justamente por isso é que me preocupo tanto em não machucar ninguém.