quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Retrospectiva



2008 foi um ano de reconstrução. De juntar os cacos, fazer curativos, riscar o passado. Foi um ano de amar muito, e não importa que não tenha dado em nada. Valeu o amar, o saber que ainda é possível sentir isso, que as cicatrizes não petrificaram o coração. Foi um ano de escrever, de maneira inconstante, mas honesta, aberta. De ir em frente, arriscar, de largar o guarda-chuva em casa e sentir o gosto da água que cai do céu, mesmo que seja fria e imprevisível. De escutar meu nome nos ecos soprados pelo vento, tentar responder e não encontrar nada lá. De aceitar que, embora a companhia faça toda a diferença, isso não é algo que se arranca de alguém.

Foi o ano de casa nova, de corpo e alma. De escrever os erros na parede da sala, para não me esquecer deles, e guardar os acertos em envelopes na cabeceira da cama, para saborear mais uma vez antes de dormir. Foi neste ano que eu quis congelar o tempo, rodar horas para trás, escutar outros sons, ir a outros lugares, ver outras pessoas, provar outros sabores, me envolver noutras cores.

Reconstruí meu castelo, mas com portas amplas, sem chave na porta, para meus amigos entrarem. Cuidei do meu tempo, do meu futuro e do meu passado, mas ignorei um pouco o presente. Me vi de repente em turbilhões, querendo despertar para me descobrir em meio a um sonho tumultuado.

Está quase acabando. Daqui a pouco vejo o que está realmente acontecendo à minha volta. O pior já foi, agora é só esperar a poeira baixar.

Natal




Não me importa o lado religioso da coisa tampouco o aspecto consumista.

Eu gosto de Natal porque é a época na qual eu reencontro pessoas que são importantes para mim, e quando eu entro naquela retrospectiva de "como eu cheguei aqui?", quando começo a esboçar os planos de "para onde eu quero ir, quem vai comigo, quem fica no passado?"

Sempre imagino que o telefone vá tocar, que alguém do outro lado me surpreenderia e que eu, atordoado, cairia de joelhos no chão tentando juntar as palavras que me teriam caído das mãos, tentando montar uma resposta, tentando dizer o quanto significa para mim saber que sou importante para alguém.

Neste Natal, antes de chegar à árvore, recebi os melhores presentes; os telegramas não eram de aracaju nem do alabama, mas me senti como criança ganhando doce ao ver as mensagens chegando no celular.

Um feliz Natal, uma feliz vida, tudo de bom para todos.

Agradeço aos meus amigos por fazerem parte da minha vida, um beijo enorme, um abraço apertado, e mais pieguice no natal do ano que vem.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Feliz Natal



Feliz Natal.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Insônia



A cama vazia fomenta reflexões, pensamentos, questionamentos. E ressalta a solidão de ser só.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Sem destino



Caminho pela noite sem destino. Não me lembro de onde venho, tampouco sei para onde vou. Com as mãos nos bolsos, ignoro as putas e os mendigos. Olho para os pés, um passo depois do outro. Um dia erguerei o rosto e verei para onde meus pés me levaram.

domingo, 7 de dezembro de 2008

A que chegou tarde demais



Um amor tão terno surgiu, fomentado no adormecer da amada em seu colo, que mesmo depois de anos e milhas de distância, ele ainda se lembra do toque dos cabelos castanhos entre seus dedos. No início ela o afastou, depois seguiram vidas diferentes, e quando ela pensou que lhes seria possível tentar retomar, era tarde demais. A lembrança permanece, mas com a doçura de anos passados, de um tempo que não volta mais.

Eco



Se eu grito pro canyon e você também, temos uma conversa?

Como saber se ouvi meu nome, ou se são apenas palavras, murmúrios que as folhas soltam no vento?

Como identificar o chamado, quando se escuta o ruído do mundo?

sábado, 6 de dezembro de 2008

Tesouros



No início, ele se apaixonava por pessoas que já lhe eram próximas, que já eram seus tesouros. Com medo de estragar a amizade, tão preciosa, permanecia calado. Quando resolvia mudar, era tarde demais.

Um dia ele tentou não ficar calado, e agiu cedo demais. Pelo tempo de uma vida ele viveu a comodidade do "contente", abrindo mão de tentar ser muito feliz.

Hoje ele não se prende mais a ninguém. Não se permite. O medo do "contente" o persegue. Vive cercado do medo de se ver novamente conformado. Quando tentou descer as escadas para a rua, o gelo nos degraus quase o derrubou, mas ele retornou à soleira da porta e ali permanece, observando, esperando encontrar aquela que pode ser sua Amada, a Uma, a Certa.

Construção



Tijolo a tijolo, construo meu mundo, meu porto. Um muro que delimita o meu domínio, que marca a fronteira entre o 'aqui' e o 'lá'.

A porta é estreita, mas os amigos têm a chave. Sabem que para eles a porta sempre está aberta. E eu tomo um livro e aguardo a visita inesperada, com meu olhar ansioso recaindo sobre a maçaneta da porta.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Epitáfio



Queimei meu passado, e deixei que o vento carregasse minha angústia para longe. Sou livre, leve, e só.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

A casa vazia



No fim da tarde, a porta se abre para uma casa vazia, sem sentido. Não é um lar; é uma casca, um refúgio da chuva, nada mais. Um lugar para descansar os ossos, comer, dormir, e esperar o dia seguinte.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Anônimo



Caminho pelas ruas, mais um pedestre sem rosto em meio à multidão. Apenas mais um nas estatísticas, mais um na fila do caixa, no ponto de ônibus, no hospital. Um figurante, cumprindo seu papel de criar volume, de olhar admirado para o protagonista quando a câmera me tem em foco, ou de ignorar o que se passa ao meu redor quando estou ao fundo.

De volta ao lar, sou um olhar inexpressivo por trás da vidraça molhada de chuva, observando o tempo que passa.

Anônimo, e só.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Canteiro



Recolhi os poemas e cartas, minhas canetas e papéis, e os enterrei. Não quero mais. Quero a lembrança doce das palavras, melhoradas pela imprecisão da memória falha. Fico com a ilusão do sonho, do que poderia ter sido, tão melhor do que o que teria realmente acontecido!
Agora no jardim, entre os espinhos das roseiras, há um canteiro de amores-perfeitos, e não posso evitar um sorriso no canto da boca, com a lembrança do que os alimenta.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Passado



E de repente, sem nunca ter sido presente, ele se tornou passado.

domingo, 23 de novembro de 2008

O templo



E ao encontrá-la, ele se retirou para a montanha, e, cinzel na mão, cavou da pedra o seu templo. Esculpiu imagens e palavras na rocha crua, e acendeu velas e trouxe flores em sua honra.

Seu templo era algo íntimo, próprio, particular seu. Não colocou placas nas estradas nem avisos nas cidades. Os que dele sabiam eram aqueles que o flagravam em seu caminho para a montanha, cinzel e martelo nas mãos calejadas. E ela encontrou o templo, e ao passar por ali, não sentiu o calor das velas ou o perfume das flores, e passou. Se por desgosto ou intimidação, nunca soube.

Um dia ela retornou, e ao ver as flores secas e as velas apagadas, perguntou ao vento, num murmúrio, o que havia acontecido. E o vendo carregou sua pergunta para o templo, que se acendeu novamente, as chamas amarelas aquecendo as paredes frias de pedra.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Conforto



Vem, menina, não chore mais. Deixe-me cuidar de você. Deite no meu colo e enxugue as lágrimas na minha camisa, o cafuné é cortesia da casa. Segure a minha mão quando acordar do pesadelo, eu te protejo das agruras do mundo. Te deixo andar de bicicleta, dar voltas no bairro, tranquila de saber que se cair, vai me encontrar com a caixa de curativos na mão, te esperando.

Meu anjo, permita-me te amar, permita-se me amar. Me dê a mão ao por-do-sol, venha discutir as cores das paredes, planejar o final de semana, escolher o próximo filme.

Vamos ver, juntos, o que a nossa história escreve.

Convite



Vem comigo, deixa-me te mostrar um mundo que você não achava possível. Complicado, perfeito, mas ao mesmo tempo, livre, sem regras. Me dê a mão, deixe o medo de lado. O pior que pode acontecer é um tropeço no caminho, o retorno ao início, mas pelo menos não haverá a sombra do "e se...?"

Ou vamos esperar até que seja tarde demais?

Tarde demais



Um dia ela chegará tarde demais. E ela se sentará nos degraus da festa, descalça, imaginando o que poderia ter sido.

Livros



Me cerco de livros, mundos de fantasia, ilusão. Melhores, piores? Diferentes.
Me cansei da mesmice que me cerca, de ver as mesmas histórias se repetindo, de usar o mesmo perfume, as mesmas roupas, das paredes beges e lençóis brancos.

Ao terminar um capítulo, paro, pensativo, os dedos acariciando a borda da folha, e olho para a prateleira. Livros de ciência, de ficção, de história e matemática. Mas o que acontece fora deles? O que se passa do lado de fora da porta? Há algo além da janela? O que acontece ao redor de Bastian, enquanto ele acompanha Atreyu? Não sei. Meus olhos voltam para meus dedos, e, acariciando o papel amarelado, viro a página.

A musa



O poeta de costas, sentado à sua mesa, não se dá conta do que passa. Se fecha em seus papéis e canetas, alheio a tudo e a todos. Rejeita a musa, abandona as cores do mundo, e se prende a seus escritos. Retoma seu texto, tentativas desajeitadas e sem alma - lhe falta algo - a musa? Mas está convencido de que não precisa mais dela, e de que não precisa escrever. Atira a um canto as canetas, entorna tinta nos papéis, fecha o livro.

Mas basta que ela, antes alheia a tudo, lhe dirija um olhar, uma palavra, que lhe mostre que ela ainda existe, para sua certeza de independência se esvaia.

O poeta não supera a musa. Ele a recolhe, e guarda com cuidado junto às outras que o abandonaram. Elas moldaram quem ele se tornou.

Só.



Estar só. Vazio da presença de outros.

Se sentir só. Abstênio de companhia.

Ser só. No isolamento de si mesmo, saber-se só. simples assim.

Em meio à multidão é onde me sinto mais só. É onde sou confrontado com o fato de que existem pessoas ao meu redor, que vivem suas vidas normalmente, e como é evidente a minha inabilidade em me encaixar, em "fitting in". Ainda assim, eu tento. Um dia eu consigo.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Mares secos



O barco partiu há muito, e o tempo, incessante, passou. A velha âncora, separada de sua embarcação, já não tem mais um propósito, mas permanece, impávida, cumprindo seu papel. Não lhe importa que não haja mais brisa, peixes ou mar.

Não lhe estranha a ausência da tensão da nau puxando, querendo movê-la. Nem considera a possibilidade de ter sido deixada, um monumento ao passado. Ela segue como se barco nunca houvesse visto, como se no mar nunca houvesse mergulhado. Aguarda o olho do viajante, a visão inesperada no mar da planície.

Sua nova função é simples: Assegurar-se de relembrar o viajante de que o mar ainda existe, apenas se mudou, fugiu, esguio. Há outras águas, há outros mares, há mais no mundo que essas planuras de sal. Basta buscar, ou, quem sabe, aguardar que a próxima maré alta traga o retorno do mar que secou.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Largada



Os músculos retesados, a mente afiada, os ouvidos atentos. Cada nervo carregado, pronto para a largada. Nada do passado importa, só o agora, e o que vem pela frente. A estrada que me trouxe até aqui é meu caminho, isso não se muda, e nem quero. Devo ao meu passado o que me tornei. Bom ou ruim, este sou eu.

A estrada à frente é difusa, incerta, acho que preciso de novos óculos. Talvez lentes de contato, mudar, mudar mais, ajustar, até encontrar meu novo domínio.

Impaciente, ansioso, incauto até, não espero o tiro, e parto, vento no rosto, peito aberto, em direção ao futuro que me espera.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Ana e o Mar



(...)
Onde já se viu o mar apaixonado por uma menina?
Quem já conseguiu dominar o amor?
Por que é que o mar não se apaixona por uma lagoa?
Porque a gente nunca sabe de quem vai gostar
(...)
("Ana e o Mar", d'O Teatro Mágico, por Fernando Anitelli)

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Sonhar


Certa vez sonhei que voava. Por acaso, ganhei consciência do estado de sonho e consegui controlar o que acontecia. Nunca aconteceu de novo.

Hoje eu sonhei que voava, e o despertador me trouxe de volta à realidade, e fica um resquício de frustração, por saber ser apenas um sonho.

Alguns dizem que deveríamos poder escolher o que sonhar.

Para mim, escolher o que não sonhar já seria um grande progresso. Evitaria a frustração do despertar.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Chove


Chuva pesada nessa cidade cinzenta, lavando as ruas, lavando as almas.
Dia escuro, a noite chega mais cedo... ou nem foi embora? O cinza da manhã é um resto da noite preguiçosa de ontem se recusando a partir? Ou seria um prólogo da noite de hoje, se antecipando ao tempo?

A chuva molha, a chuva lava, é o mundo chorando a morte dos que se foram, as perdas, frustrações, desilusões. É um desabafo, não o choro contido na sala do cinema, mas o pranto descontrolado debaixo do chuveiro.

Mas a chuva vai passar, e a gente segue em frente, os pés se encharcando nas poças, esperando um céu azul pra amanhã.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

O Só e a Rosa


É, nem sempre dá certo.

Não se colhe uma rosa só pelo desejo de acolhê-la. Não se cativa quem não se permite ser cativado.

E assim, é com certa tristeza que sigo em frente, cabisbaixo, novamente só. Desejo que a rosa fique bem, que encontre alguém que lhe regue e acolha como eu o faria. E que saiba que se precisar de mim, estarei aqui, e que se mudar de idéia, que não hesite em me chamar; talvez não seja tarde demais.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

A Rosa


Ela estava ali, fazendo suas coisas de rosa. E eu ali, passando ao largo, quase não a noto. Tímida, retraída, mas ao mesmo tempo feroz, seus espinhos pontiagudos ameaçando quem se aproximasse. Parei, sem saber direito por que, e observei. E vi como a cada pétala que se abria, uma ainda mais fina e delicada se mostrava. Vi o suave rendado de suas folhas, os espinhos afiados, seu caule forte.

Como pôde uma rosa, vista de relance, me capturar a atenção deste modo? Como ela, sem fazer nada, me conquistou assim? Por que eu me deixei derrubar deste modo?

Não sei.

Só sei que ela me encanta, e a cada nova pétala aberta, mais quero ver e acompanhar. Quero abraçá-la, me ferir em seus espinhos, mas em meu abraço protegê-la do frio no jardim. Regar-lhe néctar, escutar-lhe queixas, enxugar-lhe o pranto. Quero estar ali para conhecê-la pelo cheiro, pelo farfalhar das folhas, e sim, também pelo arranhar do espinho. Porque vem tudo junto, não quero deformá-la podando as folhas rasgadas, cicatrizes de batalha que a trouxeram até aqui. Não quero tirar os espinhos que ela custou a polir e afiar, não quero mudá-la. Aceito-a como ela é, assim, marcada, sem tirar nem pôr, e é para mim perfeita, porque, mesmo que sem querer, foi essa rosa que me cativou.

Um ano



E faz um ano que mudei de vida. Um ano desde que acabou meu casamento. Sinto saudade das coisas boas, mágoa pelas ruins, tristeza pela perda, alívio pelo recomeço. Foram 7 anos, não dá pra fingir que não existiu, que não importou. E é importante se lembrar dessas coisas. Uma amiga certa vez me disse que ela anotava em um diário tudo o de ruim que lhe fizeram para que ela não esquecesse nunca, para não se permitir fazer aquilo a outros. Eu a entendo.

Não foi fácil, este ano. Muitas, muitas mudanças, muitas alterações de estado, de disposição... É estranho olhar pra trás e ver que faz um ano. Curioso como o tempo não é absoluto. Um ano é muito e pouco ao mesmo tempo. O passado de um ano é ao mesmo tempo remoto e recente.

Nesse ano aprendi muitas coisas, cresci, lutei, sobrevivi... e descobri que quem mais te machuca é quem você confia pra lhe guardar as costas. E justamente por isso é que me preocupo tanto em não machucar ninguém.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Uma noite


Aquela noite parecia ser apenas mais uma noite agradável na companhia de pessoas agradáveis, com doses equilibradas de música e risadas. Tudo perfeito.

E no final, ela se tornou mágica e inesquecível.

Fechado para balanço


Às vezes chegam momentos em que a gente tem que se fechar um pouquinho, pensar nas coisas que têm acontecido, pra entender melhor, para perceber como nos sentimos depois de removidos os impulsos de momento, as dúvidas sem resposta.

E às vezes, nem um período desses resolve. A confusão permanece, a insegurança, as incertezas. A vontade de acertar, o desejo de entender, de saber por que a rosa é diferente das outras rosas, de olhar mais de perto e ver que mesmo essa rosa tem lá as suas duas ou três lagartinhas.

Me criticam porque sou frio, me criticam porque sou apaixonado.. sou assim, contraditório. Desculpe, não posso evitar. Não sei como me portar, não encontrei ainda o manual de instruções dessa coisa chamada "vida". Às vezes a gente fica sem saber qual botão apertar, qual alavanca puxar, e na ânsia de acertar, acabamos fazendo de mais ou de menos. Não existe ponto certo, não existe ideal. O ideal é ilusório, o que podemos fazer é tentar o melhor possível dentro do que conhecemos, dentro do que nos aparece.

E depois desse "fechado para balanço", é questão de voltar à vida, levando em frente, buscando aquela gota de orvalho.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Cativa-me!

A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:



- Por favor... cativa-me! disse ela.

Amigo meu


Tenho um amigo que inventou de fazer blog uma vez. Era pra ser uma coisa introspectiva, pensamentos particulares.. então não colocou nos engines de busca, e não contou pra ninguém, nem pra esposa.

Eventualmente, uns outros amigos descobriram, e o blog desse amigo meu durou um ano e pouquinho.
Meu blog é diferente. É introspectivo, mas é uma coisa peito aberto, quem quiser ler, que leia, este sou eu, alma desnudada, lavada, exposta. Não é segredo, mas é íntimo. Não escrevo com censura, não me limito pensando na platéia. Sou eu, assim, aqui. Só.

Desejo


O que eu desejo? Essa é uma pergunta difícil de ser respondida. Desejamos muitas coisas, muitos graus da mesma coisa. Mas o que seria o ideal, pra não se atropelar como a criança que come 10 barras de chocolate de uma vez?

Um passeio no parque, um entardecer no café, um show, um cinema, o largo da ordem na manhã de Domingo, o Botânico no pôr do sol de um dia qualquer.

O que desejo é um namoro de criança, o namoro de conhecer, de se permitir a aproximação gradual. O namoro onde até a mão dada é estranha, onde o beijo roubado é proibido, onde cada novo encontro é precedido de imensa expectativa. Quero a chance de me aproximar mais, devagarinho, de poder conhecer e ser conhecido, de cobrir essa lacuna enorme de tanto tempo passado sem que um soubesse da existência do outro. Sem promessas, sem neuras. Só a chance de nos conhecermos melhor. Simples assim.

Medo


O dia amanhece, chega o despertar para a vida que segue. Olho pro ontem, pro amanhã, não sei onde estou. Como seria de se esperar, imagino que talvez o "não" seja mais por medo que por ausência de vontade ou interesse.

Já deixei que o medo me dominasse muitas vezes. O medo de perder o que eu tinha, amizade que era muito preciosa para mim. O medo de me desiludir, de fazer com que ela caísse do pedestal onde eu a havia colocado. Medo de me machucar, o terror absoluto que sempre assombra a idéia de machucar quem eu gosto. Já me deixei dominar pelo medo de estragar o futuro daquela com quem eu queria passar o futuro, e saí assim, sem nenhum dos dois entenderem o porquê. Deixei que o medo do oceano do incerto me impedisse de sair do barco que navegava para onde eu não queria ir.

Com todo esse receio, toda essa cautela, acabei me trancando em uma redoma, me isolando do mundo e das pessoas que poderiam estar comigo. E fui só.

Por isso resolvi não mais me entregar ao medo. Prometi a mim mesmo que não ficaria acovardado em um canto, que me arriscaria, que aceitaria a chance de perder quando eu tivesse muito a ganhar. Pode não dar certo, pode ser tudo uma ilusão, mas não terá sido em vão. Valeu a viagem, a tentativa, valeu o fantasma que foi afastado um pouquinho mais. Eu sei dos riscos, eu sei que não é simples como nos contos de fada, mas aceito isso como parte indivisível do todo.

Tenho medo sim, também sangro quando me machuco.
Apenas resolvi enfrentá-lo.

Solidão


O mundo é um antigo filme preto-e-branco. Olho à minha volta, não encontro os óculos escuros para me proteger da luz ofuscante que me envolve. Cego, sigo tropeçando no cenário abandonado de uma peça há muito esquecida. O pianista do cinema, bêbado, cai sobre o piano em lá menor, enquanto na tela muda, eu me sento e espero, sem desejo de voltar para a estrada, onde um cão sem dono aguarda para lamber-me a mão.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

A nova espera


Às vezes enxergamos as coisas como gostaríamos que elas fossem, nossos desejos nos iludindo, distorcendo nossa percepção. Cabe ao observador filtrar isso, ou reconhecer a possibilidade de distorção e levá-la em conta antes de se tomar aquilo como verdade.

Assim, agi como achei que deveria, mas a miragem era realmente apenas parcialmente real. Não me arrependo, faria de novo, acho que a chance de dar certo fez com que valesse a pena o risco.

Agora estou aqui, à porta, curioso, desejoso de ver mais, de entrar nesse admirável mundo novo. Talvez o portão se abra, talvez não... quem sabe? Não eu...

A gota de orvalho caiu da pétala de flor. Mas vejo uma pluma no chão, talvez soprando juntos, consigamos fazê-la voar bem leve em sua vida breve, enquanto houver vento sem parar. Enquanto isso, vou esperando.. observo, aguardo, paciente, a chance de espiar o mundo por trás do portão.

Será?


Será que ela está pensando em mim?
O que se passa na mente dela? Que dúvidas? Alguma certeza? Vontades? Quais?
Não tenho pressa, mas tenho minhas dúvidas também, perguntas, questionamentos... Me perco em meus pensamentos, e quando vejo, o tempo passou, e estou um tiquinho mais próximo de descobrir a resposta pra mais uma pergunta, abrir mais um pouquinho a cortina.
Penso? Questiono? Imagino? Claro!
É natural a gente ficar divagando sobre as coisas boas que acontecem com a gente.

Gota de orvalho


...e cai o pano.
Fui descoberto. Ou me revelei? Não sei. Mas é boa a sensação do pano caído, o spot no rosto, mesmo que a platéia seja tão pequena. A importância da platéia não é proporcional ao seu tamanho.

Encontrei uma pétala de flor com uma gota de orvalho. A luz da manhã oscilando, refratando mil cores, fractais de luz na lágrima formada.

Tenho sorte. Mais uma entrada na minha lista de coisas que me fazem bem.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Espera


Passo as noites à espreita, alerta, esperando um sinal. Será que ela vem hoje? Será que vou ter um gostinho de sua companhia? E à medida em que as horas passam, minha esperança vai se esvaindo, até que, cabisbaixo, sou forçado a me lembrar de que provavelmente não sou mais que um nome na lista de conhecidos, provavelmente com o rosto meio apagado entre memórias difusas.

Mas se ela vem - ah, se ela surge do nada, com o sorriso maroto no canto da boca, a noite se ilumina, a tensão se dissipa, tudo é leve e lindo novamente.

E vou dormir satisfeito, desejando que em algum momento do amanhã ela pense em mim só um pouquinho.

Gostar


Me apaixono muito facilmente.
Por pessoas, por coisas, por idéias. Quando gosto, gosto de verdade. Não sei gostar mais ou menos. Por mais que veja e reconheça os defeitos, isso não diminui o meu gostar, acho que faz parte do todo, não dá pra gostar pela metade.

Nesse período de auto-revisão pré-30, estou me revisitando, me analisando como faria ao ver um quadro pela primeira vez. Redescobrindo coisas que gosto, que não gosto, que me fazem bem e que me fazem mal.

Redescobri que gosto de sorvete, de música ao vivo, de praças vazias, de andar na cidade de manhã. Não gosto de estar com alguém de quem eu não goste de verdade, não gosto de não saber onde piso, de não ter perspectiva, de não saber pra onde vou.

Finalmente eu vi que com a companhia certa, até os lugares mais improváveis ganham sua magia, e que lugares fantásticos perdem a cor quando se está só.

E é por isso que quando encontro algo de que gosto, quero mais, e muito, e tanto. Quero aproveitar cada minuto, quero descobrir cada pedacinho, quero entender, apreciar, degustar cada detalhe.

Miopia


"Você é muito fechado", me dizem alguns. É porque ainda não chegaram perto o bastante. É difícil eu deixar que alguém entre no meu mundo, mas quando acontece, é como se sempre tivesse estado lá. De longe sou um sério, fechado, sisudo até. De perto, sou outro. É uma miopia do observado, não do observador.

Isso às vezes me atrapalha um pouco, afasta as pessoas. Sei que minha primeira impressão geralmente não é das melhores. Mas me dê uma chance, e te mostro que no peito dos mal-humorados também bate um coração...

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Telefone


Um telefonema fictício...


"Pois não?"
"Oi... sou eu!"
"Oi!! Como vai?"
"Tudo bem, tudo bem.. Estou aqui, tomando café naquele lugar, lembrei de você. Quando está livre pra um repeteco, um replay dos melhores momentos?"
"Puxa, esta semana está difícil... ocupada o tempo todo, todos os dias"
"Mas quando vai poder? Vamos deixar marcado já.."
"Hum.... Que tal Quarta?"
"Quarta está ótimo!"
"Te vejo lá então!"
"beijinho!"
"beijo!"

Eu enfiaria as mãos no bolso e sairia caminhando, sorrindo como uma criança que ganhou um doce. Às vezes, o pouco é muito, se for o pouco certo.

domingo, 6 de abril de 2008

Violão


Cresci ouvindo violão.
Sonhei ouvindo violão.
Chorei, vivi, sofri, sorri.
Tudo ouvindo violão.

Já era hora de eu me aproximar mais desse amigo tão antigo.

Retrospectiva I - Aprendizado

Faltam exatamente 30 dias para meus 30 anos. E nesse terço de vida até que aprendi algumas coisas.

Aprendi que respeito tem que ser uma coisa mútua, você respeitar não traz automaticamente o respeito do outro.

Aprendi a construir, destruir e reconstruir.

Aprendi que a casa não é lar só pelo fato de a chamarmos de lar.

Aprendi pessoas, aprendi culturas, comidas e canções.

Aprendi a gostar.

Aprendi a dizer que não gosto.

Aprendi a dizer que não. Ponto.

Aprendi a escutar.

Aprendi que não aceito sem entender.

Aprendi a abrir os braços, expor o peito e deixar que atirem.

Aprendi que sem pensar eu me jogo na frente, feroz, protegendo quem é importante para mim.

Aprendi que quero mais.

Aprendi que quero pouco.

Aprendi que às vezes, o pouco é mais, se for o pouco certo.

Mas acima de tudo, aprendi que realmente é impossível ser feliz sozinho.

sábado, 5 de abril de 2008

Procura-se

Procura-se alguém.
Alguém que deite a cabeça em meu colo para dormir com cafuné, que me dê os pés para massagear, que me permita amá-la como se outra não houvesse.
Precisa-se urgentemente de alguém para partilhar a vida, pra viver a magia de se encantar continuamente com as coisas pequenas. Alguém para dividir a árdua tarefa de mudar constantemente, de não se permitir a mesmice, o marasmo.
Necessita-se de companhia, aquele alguém especial para compartilhar momentos mágicos e dividir o peso das tristezas.
Enfim, procura-se Ela, que deixa um rastro de luz quando passa.

E que nao demore, a vaga é imediata.

Distância

Amar é bom.
Se apaixonar é bom.
Mas é tão difícil a paixão distante, especialmente naquele momento inicial de 'conte-me mais sobre você', de quere conhecer mais, de querer ver, decorar os trejeitos, qual é a covinha que ressalta no sorriso, como fica a testa franzida quando contrariada...

É duro se conformar com a inação, com a observação passiva do tempo passando.
E não é só a ausência do 'sim' ou 'não', mas a impossibilidade de sequer exigi-los.

Paciência... paciência...

quinta-feira, 3 de abril de 2008

O só do soneto


O que é ser só? Ou melhor, Só. Assim, em maiúsculas mesmo. Asseguro que você conhece muito mais Sós que imagina. Tantos Sós cercados de gente, de sorrisos, de companhia! Solidão não é mais uma condição de isolamento físico. Talvez tenha sido um dia, mas esse tempo já foi.

Sei que não quero ser só. Sinto falta de companhia, de cumplicidade. E isso só faz com que seja mais difícil, me exponho mais, me arrisco demais. Quando vejo, sou um cão de rua esperando um afago, um solitário à beira do penhasco. O Só de Vinicius, andando pela estrada com o cão a lhe lamber a mão, esperando o momento em que venha a ser totalmente a sós.